domingo, 7 de febrero de 2010
RAINHA PERFEITISSIMA
Casa perfeitíssima infelizmente não se refere à casa portuguesa, neste início de 2010. É o título de uma deslumbrante exposição patente no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, até 11 de Abril. A figura central desta iniciativa, comemorativa dos 500 anos da Fundação do Convento da Madre de Deus, é a rainha D. Leonor (1458-1525), mulher de D. João II, cognominado Príncipe Perfeito. O cenóbio de Clarissas de Xabregas escolhe o título de Madre de Deus bem centrado na espiritualidade franciscana. Ao colocar Santa Maria a contemplar de joelhos o Menino que deu à luz, provocava a comunidade a contemplar a carne do Verbo.
É conhecida a acção de D. Leonor, Rainha Perfeitíssima, na criação das Misericórdias em 1498, a sua inserção no movimento humanista, a associação à imprensa e ao teatro de Gil Vicente, a aquisição de obras de arte do norte de Europa a da oficina florentina dos Della Robbia, as tapeçarias flamengas, bem como o trabalho dado a pintores portugueses como Jorge Afonso, autor tradicional do retábulo da Madre de Deus de 1515, Vicente Gil e Manuel Vicente. A exposição Casa Perfeitíssima ilustra as vertentes da acção cultural desta mulher excepcionalmente influente na criação do gosto da primeira metade do século XVI.
A exposição reúne um precioso conjunto de pinturas do primitivo Convento da Madre de Deus, hoje, na sua maioria, no Museu Nacional de Arte Antiga, como o Retábulo das Sete Dores de Maria, constituído por oito quadros da Oficina de Quentin de Metsys, ou o recomposto e célebre retábulo da Santa Auta. Outro tipo de objectos é acolhido: o quatrocentista Livro de Horas da Rainha D. Leonor, da Biblioteca Nacional, e o Breviário, que se guarda em New York; a edição da Vita Christi de Ludolfo de Saxónia de 1502-1503, pertencente à Fundação da Casa de Bragança; as bulas com privilégios ao Mosteiro, do Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa.
A escultura luso-flamenga de S. João Baptista e os bustos relicários tardo-quinhentistas que se conservaram na Madre de Deus associam-se ao famoso relicário de ouro e pedras preciosas de c. 1510, do Arte Antiga.
Visitar a exposição é considerar-se no convívio com o primeiro quartel do século XVI. Parabéns à comissária Alexandra Curvelo e sua equipa e à dinâmica Directora do Museu, Maria Antónia Pinto de Matos, pelo esforço de reunir peças que há séculos não se via e por provocar o estudo rigoroso do nosso património.
D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa
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